A cornetada de Leci Brandão

Estava tudo armado para ser uma festa em comemoração ao Dia Nacional do Samba. Havia até um botequim montado no palco do Canecão, casa de show escolhida pela Liga Independente das Escolas de Samba para a realização do evento. Representantes de todas as agremiações do Grupo Especial estavam presentes. Todo esse cenário, no entanto, serviu para a cantora Leci Brandão fazer um protesto. Na verdade, um desabafo.
A cantora mangueirense arrancou aplausos da platéia durante a homenagem que a Liesa fez a ela e aos demais cantores que participaram da festa. Todos esperavam os agradecimentos quando Leci pegou o microfone. Enganaram-se. No lugar do obrigada, críticas à Rede Globo, que a tirou do cargo de comentarista do carnaval carioca.
- Sou carioca nascida em Madureira, terra da Portela e estou morando em São Paulo. O Jorge Perlingeiro é uma das poucas pessoas que lembram que eu existo. Não dão valor ao sambista. Fui comentarista de Carnaval da Globo por nove anos, mas me rifaram de lá porque eu falava de comunidade. Me tiraram porque não falava de celebridades e oportunistas. Tem gente aí, que com pouco tempo de carreira já tem DVD e eu fui lançar o meu depois de 32 anos. Sou popular, sou do povo, sou sambista! – bradou, sendo ovacionada pela platéia.
Atualmente, Leci tece seus comentários somente nos desfiles de São Paulo. Depois do primeiro desabafo, a cantora cantou “Zé do Caroço” e “Isso é Fundo de Quintal”. Mas engana-se quem pensa que ela parou por aí. Leci voltou a cornetar.
- De 84 a 93, fiz comentários para o carnaval do Rio. Fui afastada e estou indo para o meu 5° ano atuando em São Paulo. Quem introduziu a palavra comunidade na TV foi eu. Tenho a frustração de fazer shows no Brasil inteiro e não ser solicitada na minha cidade", falou, já com a voz embargada devido à emoção.
Com a maioria das pessoas de pé, a sambista voltou a cantar “Foi um rio que passou em minha vida”. Parecia uma ironia.